AMAZONIA:
Povos e culturas
PVH 200819
Crônica
dos Povos Indigenas
INGARIKÓS:
Os fabricantes de sal
É corrente na literatura amazônica a afirmação de
que os índios desta região não preparam cozinhados por lhes faltar o sal. Mas
existem os povos que não só conhecem o sal comotambém o preparam. Os índios
Ingarikós e os Patamonas, que habitam no alto do rio Maú ou Ireng, afluente do
Tacuru – afluente do rio Branco, próximo à Guiana Inglesa. Nesse rio existe uma
cachoeira conhecida por Urinduik. Nas pedras dessa cachoeira cresce uma espécie
de alga, à qual os índios dão o nome de Urinduei.
Os Ingarikós colhem grande quantidade desse
precioso vegetal e o levam ao fogo em bastante água, numa vasilha de barro.
Depois de fervida a mistura, retiram-na do fogo, ficando no fundo da vasilha
uma substancia espessa, de cor escura e sabor salgado. Após secarem ao sol,
depois de decantada a solução extrativa, fica no fundo do vaso em que se fez a
fervura o sal por esse modo obtido, cujas propriedades, como afirmam as
pessoas, são as mesmas do cloreto de sódio.
Os índios Ingarikó usam-no não somente como
condimento, mas também como antídoto em casos de envenamento, pois, neutraliza
os efeitos de substâncias de ação destruidora das forças vitais, até mesmo a
peçonha dos ofídios.
Sua mais interessante utilização é para, adicionado
ao Ecá, adormecer-lhes a fome, isto é, diminuir ou afastar a necessidade de
comer, quando lhes falta o alimento ou quando empreendem, grandes caminhadas
sem possibilidade imediata de alcançar produtos da pesca e caça. Cultivam um
arbusto muito assemelhado ao Ipadu ou coca do levante, de que se extrai a
cocaína.
Pisam as folhas desse vegetal, misturando-as com o
sal por eles preparado e fazem umas pílulas de tamanho que possam trazer entre
os lábios. Aí colocadas as pílulas vão deglutindo a saliva por horas a fio, sem
experimentarem a menor sensação de fome.
Para saber mais........
Povos
INGARIKÒS – Amazonas
Os Ingarikó habitam
na circunvizinhança do Monte Roraima, marco da tríplice fronteira entre Brasil,
Guiana e Venezuela, e, sobretudo, toco da mitológica árvore da vida, que foi
cortada no início dos tempos. Ocupando a porção alta da Terra Indígena Raposa
Serra do Sol, permaneceram livres dos vários recrutamentos de mão-de-obra
indígena que têm afetado, há séculos, povos vizinhos ao sul. Os contatos com os
seus parentes na Guiana são hoje, assim como antigamente, bastante freqüentes.
O nome
Engaricos é a maneira mais antiga - data de 1883 - de se
escrever o nome que depois é quase invariavelmente grafado ingarikó. Dizia-se então designar, na
Guiana, um híbrido, uma mistura entre Makuxi e Arekuna, e não um povo singular
(Im Thurn).
Quarenta anos mais
tarde, o nome ingarikó foi
traduzido, no Brasil, por "gente da floresta densa" do nordeste de
Roraima, com conotação pejorativa: gente que era o inimigo principal e comum
dos Taurepang e Arekuna (Koch-Grünberg, 1924). À época, o referente do
termo ingarikó era
uma questão aberta.
Havia tanto a
hipótese de ser um determinado povo localizado no lado brasileiro da tríplice
fronteira Brasil-Guiana-Venezuela e talvez aparentado dos Akawaio da Guiana quanto
a hipótese de se tratar de um nome aplicado, na Guiana, indistintamente aos
Patamona e aos Akawaio, considerados dois povos separados (Frank, 2002).
Na década de oitenta,
o termo ingarikó foi
glosado como "povo do ápice da montanha", sem conotação pejorativa.
Antes, os antropólogos já sabiam que os chamados Ingarikó no Brasil, os Akawaio e os Patamona eram um mesmo
povo, que poderia ser designado pelo termo kapon. Compreendeu-se então que, em virtude daquele significado
do nome ingarikó, esse
termo também poderia ser aplicado aos Akawaio e Patamona, visto que vivem em
terras altas quase que exclusivamente (Butt Colson, 1983-1984).
Isto quer dizer que o
termo ingarikó pode
ser usado em contextos variados por eles próprios ou por outros. Na prática,
significa que uma mesma pessoa pode, conforme as circunstâncias,
identificar-se, seja no Brasil ou alhures, ora como Patamona ora como Ingarikó. Atualmente, os Patamona que
habitam no Brasil tendem a se identificar como Ingarikó no contexto das políticas nacionais. É tão-somente
no Brasil que o nome ingarikó tem
expressão nacional.
Mais recentemente,
uma terceira tradução para o nome ingarikó foi
apresentada: "povo do lugar frio e seco". O termo é usado nesse
sentido pelos Macuxi que vivem na Guiana em relação aos Patamona, que também
habitam aquele país (Whitehead, 2003).
Em uma análise
lingüística atual tem-se que: "descritivamente ingarïko é: inga 'serra', 'mata espessa'; rï- 'elemento de coesão'; -ko 'coletivo: origem, local de
habitantes', 'habitante de', 'morador da', portanto 'povo da mata espessa',
'moradores das serras'" (Maria Odileiz Sousa Cruz).
O termo kapon foi tomado como
autodenominação dos Ingarikó, Akawaio e Patamona por vários autores (Brett; Im
Thurn; Kenswil; Butt Colson). Entre os significados de kapon estão:
"gente", "o povo", ou melhor, "povo celeste",
"povo nas alturas", "povo elevado" (kak, "céu",
"lugar elevado" e -pon, "aqueles em").
Nota-se, hoje, que
este termo também pode designar "índios" (Macuxi, Waiwai, Yanomami,
Ingarikó etc.), especificamente em contextos de oposição aos
"não-índios". Desse modo, não consiste em autodenominação. Contudo,
pesquisadores na ausência de um termo mais adequado para designarem unidades
sociais ou lingüísticas mais abrangentes, formadas tão-somente entre os
Ingarikó, Akawaio e Patamona, valem-se do termo kapon. Nesse sentido,
introduziram os nomes compostos: Kapon-Ingarikó, Kapon-Patamona e
Kapon-Akawaio.
População
Segundo o
levantamento apresentado na VII Assembléia Geral do Povo Ingarikó, em 2005, a
população ingarikó era aproximadamente de 1.120 indivíduos, ou seja, cerca de
8% da população total da TI Raposa Serra do Sol. Em 2007, os Ingarikó somavam
cerca de 1.170 pessoas.
Localização
Os Kapon (Ingarikó,
Patamona e Akawaio) habitam uma área partilhada pelo Brasil, Guiana e
Venezuela, na circunvizinhança do Monte Roraima, marco da tríplice fronteira.
No Brasil, os
Ingarikó e os Patamona ocupam a porção alta da Terra Indígena Raposa Serra do
Sol, nordeste do estado de Roraima. Distribuem-se em 7
aldeias ao longo de rios e igarapés, com maior concentração no alto rio Cotingo
e no rio Ponari. Estão mais próximos ao Monte Roraima do que seus vizinhos ao
sul, os Makuxi, Taurepang e Wapixana, com quem compartilham essa Terra
Indígena.
Na Guiana, os Akawaio
habitam o médio e alto curso do rio Mazaruni e seus afluentes, e o rio Cuyuni.
Por sua vez, os Patamona localizam-se na Serra Pacaraima e ao longo do rio
Ireng (Maú), na fronteira com o Brasil. Ambos estão nas terras altas da Guiana.
Na Venezuela, os Akawaio localizam-se no leste do Estado Bolívar, fronteira com
a Guiana, próximos ao rio Wenamu.
Fontes: Outras histórias do Amazonas
Antonio
Cantanhede
pib.socioambiental.org
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