quarta-feira, 21 de agosto de 2019


AMAZONIA: Povos e culturas

PVH 200819

Crônica dos Povos Indigenas

INGARIKÓS: Os fabricantes de sal

É corrente na literatura amazônica a afirmação de que os índios desta região não preparam cozinhados por lhes faltar o sal. Mas existem os povos que não só conhecem o sal comotambém o preparam. Os índios Ingarikós e os Patamonas, que habitam no alto do rio Maú ou Ireng, afluente do Tacuru – afluente do rio Branco, próximo à Guiana Inglesa. Nesse rio existe uma cachoeira conhecida por Urinduik. Nas pedras dessa cachoeira cresce uma espécie de alga, à qual os índios dão o nome de Urinduei.

Os Ingarikós colhem grande quantidade desse precioso vegetal e o levam ao fogo em bastante água, numa vasilha de barro. Depois de fervida a mistura, retiram-na do fogo, ficando no fundo da vasilha uma substancia espessa, de cor escura e sabor salgado. Após secarem ao sol, depois de decantada a solução extrativa, fica no fundo do vaso em que se fez a fervura o sal por esse modo obtido, cujas propriedades, como afirmam as pessoas, são as mesmas do cloreto de sódio.

Os índios Ingarikó usam-no não somente como condimento, mas também como antídoto em casos de envenamento, pois, neutraliza os efeitos de substâncias de ação destruidora das forças vitais, até mesmo a peçonha dos ofídios.
Sua mais interessante utilização é para, adicionado ao Ecá, adormecer-lhes a fome, isto é, diminuir ou afastar a necessidade de comer, quando lhes falta o alimento ou quando empreendem, grandes caminhadas sem possibilidade imediata de alcançar produtos da pesca e caça. Cultivam um arbusto muito assemelhado ao Ipadu ou coca do levante, de que se extrai a cocaína.

Pisam as folhas desse vegetal, misturando-as com o sal por eles preparado e fazem umas pílulas de tamanho que possam trazer entre os lábios. Aí colocadas as pílulas vão deglutindo a saliva por horas a fio, sem experimentarem a menor sensação de fome.

Para saber mais........

Povos INGARIKÒS – Amazonas
Os Ingarikó habitam na circunvizinhança do Monte Roraima, marco da tríplice fronteira entre Brasil, Guiana e Venezuela, e, sobretudo, toco da mitológica árvore da vida, que foi cortada no início dos tempos. Ocupando a porção alta da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, permaneceram livres dos vários recrutamentos de mão-de-obra indígena que têm afetado, há séculos, povos vizinhos ao sul. Os contatos com os seus parentes na Guiana são hoje, assim como antigamente, bastante freqüentes.
O nome
Engaricos é a maneira mais antiga - data de 1883 - de se escrever o nome que depois é quase invariavelmente grafado ingarikó. Dizia-se então designar, na Guiana, um híbrido, uma mistura entre Makuxi e Arekuna, e não um povo singular (Im Thurn).
Quarenta anos mais tarde, o nome ingarikó foi traduzido, no Brasil, por "gente da floresta densa" do nordeste de Roraima, com conotação pejorativa: gente que era o inimigo principal e comum dos Taurepang e Arekuna (Koch-Grünberg, 1924). À época, o referente do termo ingarikó era uma questão aberta.
Havia tanto a hipótese de ser um determinado povo localizado no lado brasileiro da tríplice fronteira Brasil-Guiana-Venezuela e talvez aparentado dos Akawaio da Guiana quanto a hipótese de se tratar de um nome aplicado, na Guiana, indistintamente aos Patamona e aos Akawaio, considerados dois povos separados (Frank, 2002).
Na década de oitenta, o termo ingarikó foi glosado como "povo do ápice da montanha", sem conotação pejorativa. Antes, os antropólogos já sabiam que os chamados Ingarikó no Brasil, os Akawaio e os Patamona eram um mesmo povo, que poderia ser designado pelo termo kapon. Compreendeu-se então que, em virtude daquele significado do nome ingarikó, esse termo também poderia ser aplicado aos Akawaio e Patamona, visto que vivem em terras altas quase que exclusivamente (Butt Colson, 1983-1984).
Isto quer dizer que o termo ingarikó pode ser usado em contextos variados por eles próprios ou por outros. Na prática, significa que uma mesma pessoa pode, conforme as circunstâncias, identificar-se, seja no Brasil ou alhures, ora como Patamona ora como Ingarikó. Atualmente, os Patamona que habitam no Brasil tendem a se identificar como Ingarikó no contexto das políticas nacionais. É tão-somente no Brasil que o nome ingarikó tem expressão nacional.
Mais recentemente, uma terceira tradução para o nome ingarikó foi apresentada: "povo do lugar frio e seco". O termo é usado nesse sentido pelos Macuxi que vivem na Guiana em relação aos Patamona, que também habitam aquele país (Whitehead, 2003).
Em uma análise lingüística atual tem-se que: "descritivamente ingarïko é: inga 'serra', 'mata espessa'; rï- 'elemento de coesão'; -ko 'coletivo: origem, local de habitantes', 'habitante de', 'morador da', portanto 'povo da mata espessa', 'moradores das serras'" (Maria Odileiz Sousa Cruz).
O termo kapon foi tomado como autodenominação dos Ingarikó, Akawaio e Patamona por vários autores (Brett; Im Thurn; Kenswil; Butt Colson). Entre os significados de kapon estão: "gente", "o povo", ou melhor, "povo celeste", "povo nas alturas", "povo elevado" (kak, "céu", "lugar elevado" e -pon, "aqueles em").
Nota-se, hoje, que este termo também pode designar "índios" (Macuxi, Waiwai, Yanomami, Ingarikó etc.), especificamente em contextos de oposição aos "não-índios". Desse modo, não consiste em autodenominação. Contudo, pesquisadores na ausência de um termo mais adequado para designarem unidades sociais ou lingüísticas mais abrangentes, formadas tão-somente entre os Ingarikó, Akawaio e Patamona, valem-se do termo kapon. Nesse sentido, introduziram os nomes compostos: Kapon-Ingarikó, Kapon-Patamona e Kapon-Akawaio.
População
Segundo o levantamento apresentado na VII Assembléia Geral do Povo Ingarikó, em 2005, a população ingarikó era aproximadamente de 1.120 indivíduos, ou seja, cerca de 8% da população total da TI Raposa Serra do Sol. Em 2007, os Ingarikó somavam cerca de 1.170 pessoas.
Localização
Os Kapon (Ingarikó, Patamona e Akawaio) habitam uma área partilhada pelo Brasil, Guiana e Venezuela, na circunvizinhança do Monte Roraima, marco da tríplice fronteira.
No Brasil, os Ingarikó e os Patamona ocupam a porção alta da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, nordeste do estado de Roraima. Distribuem-se em 7 aldeias ao longo de rios e igarapés, com maior concentração no alto rio Cotingo e no rio Ponari. Estão mais próximos ao Monte Roraima do que seus vizinhos ao sul, os Makuxi, Taurepang e Wapixana, com quem compartilham essa Terra Indígena.
Na Guiana, os Akawaio habitam o médio e alto curso do rio Mazaruni e seus afluentes, e o rio Cuyuni. Por sua vez, os Patamona localizam-se na Serra Pacaraima e ao longo do rio Ireng (Maú), na fronteira com o Brasil. Ambos estão nas terras altas da Guiana. Na Venezuela, os Akawaio localizam-se no leste do Estado Bolívar, fronteira com a Guiana, próximos ao rio Wenamu.
Fontes: Outras histórias do Amazonas
 Antonio Cantanhede
pib.socioambiental.org


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