sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

O NOSSO TESOURO ESTÁ NOS SERINGAIS


Esta nas florestas, nos rios, nas reservas extrativistas, nas terras indígenas, nos lagos das usinas, nas estações telegráficas, na história da construção da ferrovia Madeira Mamoré, na história do Guaporé, na história do garimpo.

Um dos nossos maiores tesouros está nos seringais mas a síndrome da miopia econômica não nos tem permitido utilizarmos o seu potencial de geração de riquezas para a nossa economia. Os seringais são atrativos turísticos de alto valor agregado. No nosso patrimônio econômico podem ser contabilizados como ativos intangíveis com vocação para gerar negócios e atrair riquezas através do empreendedorismo criativo.
Os seringais, com suas histórias, suas arquiteturas e sua dinâmica de funcionamento, hoje despertam grande interesse turístico por parte de pessoas que querem vivenciar experiências de outras pessoas ou de empreendimentos.Isso na economia é o turismo experiencial que consiste na visitação a propriedades para participar da lida, do manejo e do estilo de vida dos habitantes.
E o seringal, diferente das demais estruturas produtivas, tem um modo de manejo muito peculiar que atrai a curiosidade das pessoas.Por isso, existem muitas pessoas que gostariam de cortar seringa junto com o seringueiroàs quatro da manhã, participar da defumação, colher castanhas, açaí, cupuaçu, pescar e observar a vida dos pássaros.E pagam bem por isso.
O seringal e as artes cênicas
Por outro lado, os seringais tem também um grande potencial para gerar empregos e renda que é através do teatro, do cinema e das quadrilhas. Eles foram palco de uma das histórias mais dramáticas que a humanidade já viveu. A história de um confinamento de jovens dentro de uma floresta brava, com bichos perigosos, índios valentes e prontos para defender as suas terras e por último, infestada de mosquitos, cobras, formigas venenosas e muitas doenças tropicais.

Nos sabemos que nos seringais aqueles jovens foram abandonados à própria sorte, obrigados a trabalhar em condições sub-humanas, sem salário, sem férias, e sem o direito mais sagrado de receber noticias das suas famílias. Ali os seus sonhos foram enterrados, as suas aspirações foram apagadas e a sua dignidade foi jogada no lixo. Os sonhos de sucesso que aqueles jovens acalentaram quando saíram de suas casas viraram sonhos de terror.

Encarcerados na floresta amazônica, aqueles jovens foram obrigados a aprender a se defender das adversidades, tiveram que matar para não morrer, tiveram que suportar os seus sofrimentos em silêncio, dividir as suas angústias consigo mesmos, tiveram que sufocar os seus sentimentos e a sua solidão, por toda a vida. Esses trabalhadores foram condenados à injustiça oficialmente e à miséria compulsoriamente.

Em função da experiência vivenciada por esses profissionais, os seringueiros são ricos em saberes sobre sobrevivência na selva, caça, pesca, medicina, engenharia, arquitetura, química, visto serem, pela natureza do seu oficio, preferencialmente mateiros, caçadores e pescadores e curandeiros.Ensinam o conceito de vida extrativista com impactos mínimos.

A sua história poderia muito bem estar sendo contada pelo teatro e cinema e pelas quadrilhas que tem o poder de materializar sonhos, explorando o aspecto emocional. Isso nos permitiria criarmos uma nova economia criativa, gerando muitos empregos, renda e impostos.Ademais, o seringal agrega ainda um valor muito diferenciado que é a marca Amazônia.

Vale salientar que quando nós comercializamos o leite da seringa, a castanha, a madeira, a polpa do açaí, a polpa do cupuaçu, o peixe, estamos comercializando os ativos tangíveis da nossa Amazônia. O turismo, por outro lado, nos permite comercializar os ativos intangíveis pois é uma economia mais duradourae, no caso dos seringueiros, representaria uma nova renda para as famílias que depois de trabalharem por muitos anos hoje vivem em situação de penúria.

Portanto, um dos nossos maiores tesouros está no grande saber dos nossos seringueiros e na história deste ciclo da nossa economia que foi a seringa. E a hora é propícia para vendermos este ativo através do turismo experiencial.

2 comentários:

  1. Parabéns Mestre, precisamos dar a devida importância e explorar essa riqueza de modos que reflita na colorização dessa gente através do Turismo, grato pela sua dedicação! Parabéns!

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