Amazonia: Curiosidades
A culpa foi da Sucuri
Essa é uma
história de sobrevivência de uma parcela de jovens que são recrutados para
servir à sua pátria, a Bolívia e são aquartelados nos mais distantes rincões
daquele país como a Base de Orquilla, no departamento do Beni. Esta base naval
está situada no departamento do Beni, na confluência do rio Itonamas com o rio
Baures (afluentes do rio Guaporé), distante 5 horas de voadeira do município de
Costa Marques, estado de Rondônia.
Para chegar-se até lá o viajante singra uma
região de floresta amazônica, cortada por pequenos rios e igarapés. A vegetação
é constituída de floresta densa com árvores de grande porte.
O rio que dá
acesso a essa base naval é o Itonamas cujas medidas de largura não passam de 10
metros de lado a lado. As suas águas são turvas, a profundidade é pequena mas
suporta bem este tipo de embarcação, mormente no período das chuvas. As suas
margens brindam o viajante com muitos pássaros e caças de todos os tipos, com maior
presença de capivaras e outros animais.
Ocorrem muitas interrupções na viagem
ocasionadas por quedas de galhos de árvores secas. Esse rio é muito utilizado
pelos comerciantes bolivianos que se deslocam por ele para fazer compras na
cidade de Costa Marques.
Após 5 horas de
viagem (motor 25hp), chega-se ao quartel de Orquilla. A chegada é sombria, pois
descortina-se uma localidade com ares de isolamento e abandono. A barranca do
rio é baixa e as águas são totalmente barrentas em função da movimentação de
barcos e voadeiras que ali fazem parada. Alí funciona, além de uma base naval,
uma espécie de agencia de cobrança de impostos de importação. Todas as
mercadorias que são adquiridas no lado brasileiro ao chegarem ali pagam um
tributo. Sim um tributo para a Marinha Boliviana.
As instalações do
destacamento são rudimentares, com casas construídas de adobe ou tijolo grande,
paredes largas e com acabamento manual. A cobertura das casas é feita de telha
de barro e palha e o piso é de chão batido e tijolos não queimados. A
iluminação é fornecida por gerador e as arborizações consistem de pés de
laranja e limão boliviano (toronja).
O destacamento é comandado por um tenente
e dois sargentos e uns 40 soldados que em espanhol são tratados por soldaditos.
Cria-se animais domésticos como gado (ganao), suínos(tantcho), e planta-se
milho e mandioca, sendo que o gado é usado para a produção de leite para a
alimentação do comandante, bem como dos seus oficiais e suas respectivas
famílias, assim como a criação de suínos.
Já o milho e a
mandioca são destinados para a alimentação dos soldaditos. Segundo o relato do
próprio comandante um certo tempo ele e seu estado maior começaram a dar pelo
desaparecimento de pequenos leitõezinhos (tcantitos) ou bacurins para nós aqui
no brasil. Determinaram uma investigação e descobriram um leitãozinho na
barriga de uma cobra sucuri. Mataram a referida cobra, tiraram o tchantito da
barriga da mesma e deram a investigação por encerrada. Na próxima semana, novo
sumiço de tchantito.
Aí nova
investigação e mais matança de sucuri. Mas dessa vez não encontraram nada na
barriga das cobras. Na próxima semana o sumiço continuou e nova investigação
foi determinada, mas nada foi encontrado. Aí os investigadores tiveram a
curiosidade de verificar nos caldeirões que cozinhavam o milho e a mandioca
para os soldaditos e, para surpresa de todos, eis que o leitãozinho estava
lá...
A partir daquele
dia o comandante da Base da Marinha ficou com mais cuidado nos seus soldaditos
mais do que na sucuri. Essa
história nos mostra como funcionam as coisas nesses rincões da Amazônia, onde
as diferenças culturais são tão grandes quanto as distâncias e essas diferenças
são mais expressivas quando atravessamos as fronteiras do Brasil e adentramos
os limites dos países vizinhos, como a Bolívia.
Notas
complementares:
A Bolívia é o único pais da América Latina que não tem aceso ao mar mas
possui a sua Marinha. Até 1825, tinha acesso ao mar, mas foi-lhe negado pelo
Chile. No Tratado de 1866 entre o Chile e a Bolívia as partes envolvidas
concordaram em uma linha de fronteira que estabelecesse o acesso ao mar para a
Bolívia reconhecido pelo Chile. Porém, na Guerra do Pacífico (1879–1883) o
Chile venceu o Peru e a Bolívia, e conquistou os territórios bolivianos
costeiros. Desde então, a recuperação de sua costa é uma questão de honra. Embora tenha ficado
sem litoral, desde
a Guerra
do Pacífico, em 1879, a
Bolivia resolveu manter uma pequena Marinha, estabelecendo em janeiro de 1963,
uma Força Fluvial para operar em seus rios.
Sucuri - serpente da família dos boídeos (Eunectes murinus ), encontrada
do Norte da América do Sul até a Bolívia e Paraguai, de coloração marrom, verde
ou olivácea, com grandes manchas pretas arredondadas; é a maior serpente do
mundo, podendo alcançar cerca de 10m de comprimento, e vive à beira da água ou
mergulhada em rios e lagoas, onde se alimenta de vertebrados de tamanhos
variados, que são mortos geralmente por constrição.
Rio Guaporé - O rio Guaporé nasce do
encontro do rio Moleque, rio Sepultura e
do rio Lagoazinha na chapada dos Parecis – MT,
a 630 metros de altitude. Tem a sua foz no Rio Mamoré,
quando esse ingressa em território brasileiro. Sua extensão é de 1716 km,
sendo que 1150 km são navegáveis a partir de Vila Bela da Santíssima
Trindade (em todo seu percurso no estado de Rondônia,
e uma pequena parte de Mato Grosso, onde corre no sentido Leste-Oeste),
nesse trecho navegável faz fronteira entre o Brasil (margem norte) e a Bolívia
(margem sul).
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