AMAZÔNIA: Ciclo da Borracha
Lutas,
sonhos e dramas humanos
A morte do Arigó Basílio
Pobre Bazilio. Tendo levado a maior parte da
existência a conduzir passageiros entre as margens do rio Tarauacá*, chegara também sua vez de tomar passagem na funérea
barca de seu colega Charonte, para a grande viagem, desta a outra vida.
Por gostar do velho caboclo, vou, com outros,
acompanha-lo ao cemitério. Os coveiros ultimam os preparos da sepultura. No
chão, deitado em humilde rede que lhe serve de esquife, Basílio espera, - o
mesmo corpo minúsculo, a mesma fisionomia bondosa e resignada que eu conheci.
Olhando-o, fico a pensar na rudez chocante dos
destinos da vida. Aquele enterro humilde, sem uma flor, sem uma lágrima, é o
triste epílogo de um doloroso romance: um jovem sertanejo, vigoroso, cheio de
esperança, seduzido pela miragem do ouro-negro,
abandona sua terra natal, sua família, e aventura-se em busca de fortuna,
para, de volta, desposar uma jovem a quem jurara sincero amor.
Após anos de
trabalho e sacrifício, de saudade e sofrimento, a noiva o atraiçoa. E ele se
desmanda e rola, sem ideal, pelo resto da vida, até encontrar refúgio nos
braços da morte.
Acodem-me, então, à lembrança daquelas palavras
carregadas de tristeza: “...mas inda não
ouvi o fim, pruquê começo a chorá...”
Pobre Basílio! Teria conseguido reprimir as
lágrimas para ouvir o resto da carta materna, antes de morrer?
E a pobre velhinha? Coitada! Talvez continue a
rezar e a pedir a Deus que lhe prolongue a existência para o acalentado consolo
de rever o filho querido, que não voltou e nunca mais voltará...
Obs: Essa história é a história de muitos Arigós que
vieram para a Amazônia na ilusão de ganhar muito dinheiro e retornar para o
seio de suas famílias.
Infelizmente a
grande maioria nunca conseguiu retornar. Tombaram nas florestas, nos rios, nas
cidadezinhas, nas garras das onças, nas pontas flechas de índios, nos hospitais
– vítimas de sezão, malária, febre amarela, impaludismo e beri-beri.
NOTA:
*O rio Tarauacá é
um curso
de água que banha os estados do Acre e Amazonas, no Brasil.
É afluente de margem direita do rio Juruá.
Desagua no rio Juruá, do qual é afluente de margem direita, frente à cidade
de Eirunepé, no estado do Amazonas.
O rio já atingiu pontos
críticos devido às chuvas na região, tendo sido protagonista de uma enchente
histórica em novembro de 2014. Em janeiro de 2016, o rio atingiu a cota de
alerta, que é de 8,50 metros.
** Tarauacá é
um município brasileiro localizado
no noroeste do estado do Acre.
Está distante 400 km da capital do estado, Rio Branco. Sua população, de acordo com
estimativas do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), era de 40 024
habitantes em 2017, o
que a coloca na posição de 4ª mais populosa de
seu estado. Ocupa o terceiro lugar entre os municípios do estado em extensão
territorial, com uma área de 15.553,43 km².
O município de Tarauacá
originou-se do Seringal Foz do Muru, que foi criado na confluência do Rio
Tarauacá com o Rio Muru, transformando-se em povoado com o passar do tempo.
Fundado em 1º de outubro de 1907, por Antônio Antunes de Alencar, o povoado foi
transformado em vila e
batizado de "Seabra". Obteve sua autonomia através do Decreto Federal
9 831, de 23 de outubro de 1912, tornando-se, então, município.
Tarauacá é conhecido
como "a terra do abacaxi gigante".
Esse fruto chega a pesar em torno de 15 kg, fato que provoca grande
admiração nos visitantes. A cidade é dotada de razoável infraestrutura
turística. Conta com hospedarias, bares, hotéis e restaurantes, onde sempre se
encontram pratos à base de peixes nobres da região, dentre outras
especialidades.
O município de Tarauacá
se tornou famoso no Brasil e no mundo após o programa Globo Repórter exibir uma
matéria sobre as "Riquezas Amazônicas" que foi ao ar em 08 de
dezembro de 2006. A reportagem mostra que além de produzir uma espécie de
abacaxi gigante, também comprova que uma combinação de ervas que só existem na
região, é capaz de fazer crescer cabelo em quem tem calvície. Carlos Pinto da
Silva, o seringueiro que se virou cientista ao desenvolver o "Shampoo
Esperança", diz que jamais revelará o segredo da sua fórmula milagrosa,
tão cobiçada pelas indústrias de cosméticos.
*** origem
da palavra Tarauacá
A palavra TARAUACÁ vem do povo indígena
Kaxinawá (Kaxi=morcego, Nawá=povo, portanto, povo do morcego), falantes da
língua Pano (Pano= o grande tatu), e que se autodenominam Huni-kuĩ, isto é, os
“verdadeiros homens”, que falam o Rã-txa, a “língua verdadeira”. TARAUACÁ, a
escrita original seria TARÁWAKÁ (tará=tronco de árvore, waká=rio). Por isso
Tarauacá, “rio das tronqueiras”.
Fonte: Livro SAPUPEMA - Contos
Amazônicos.
Autor: Jornalista JOSÉ POTYGUAR
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