quarta-feira, 12 de dezembro de 2018




AMAZÔNIA: Ciclo da Borracha
Lutas, sonhos e dramas humanos


A morte do Arigó Basílio

Pobre Bazilio. Tendo levado a maior parte da existência a conduzir passageiros entre as margens do rio Tarauacá*, chegara também sua vez de tomar passagem na funérea barca de seu colega Charonte, para a grande viagem, desta a outra vida.

Por gostar do velho caboclo, vou, com outros, acompanha-lo ao cemitério. Os coveiros ultimam os preparos da sepultura. No chão, deitado em humilde rede que lhe serve de esquife, Basílio espera, - o mesmo corpo minúsculo, a mesma fisionomia bondosa e resignada que eu conheci.

Olhando-o, fico a pensar na rudez chocante dos destinos da vida. Aquele enterro humilde, sem uma flor, sem uma lágrima, é o triste epílogo de um doloroso romance: um jovem sertanejo, vigoroso, cheio de esperança, seduzido pela miragem do ouro-negro, abandona sua terra natal, sua família, e aventura-se em busca de fortuna, para, de volta, desposar uma jovem a quem jurara sincero amor. 

Após anos de trabalho e sacrifício, de saudade e sofrimento, a noiva o atraiçoa. E ele se desmanda e rola, sem ideal, pelo resto da vida, até encontrar refúgio nos braços da morte.

Acodem-me, então, à lembrança daquelas palavras carregadas de tristeza: “...mas inda não ouvi o fim, pruquê começo a chorá...”

Pobre Basílio! Teria conseguido reprimir as lágrimas para ouvir o resto da carta materna, antes de morrer?

E a pobre velhinha? Coitada! Talvez continue a rezar e a pedir a Deus que lhe prolongue a existência para o acalentado consolo de rever o filho querido, que não voltou e nunca mais voltará...

Obs: Essa história é a história de muitos Arigós que vieram para a Amazônia na ilusão de ganhar muito dinheiro e retornar para o seio de suas famílias.
Infelizmente a grande maioria nunca conseguiu retornar. Tombaram nas florestas, nos rios, nas cidadezinhas, nas garras das onças, nas pontas flechas de índios, nos hospitais – vítimas de sezão, malária, febre amarela, impaludismo e beri-beri. 
NOTA:

*O rio Tarauacá é um curso de água que banha os estados do Acre e Amazonas, no Brasil. É afluente de margem direita do rio Juruá. Desagua no rio Juruá, do qual é afluente de margem direita, frente à cidade de Eirunepé, no estado do Amazonas.
O rio já atingiu pontos críticos devido às chuvas na região, tendo sido protagonista de uma enchente histórica em novembro de 2014. Em janeiro de 2016, o rio atingiu a cota de alerta, que é de 8,50 metros.

** Tarauacá é um município brasileiro localizado no noroeste do estado do Acre. Está distante 400 km da capital do estado, Rio Branco. Sua população, de acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), era de 40 024 habitantes em 2017, o que a coloca na posição de 4ª mais populosa de seu estado. Ocupa o terceiro lugar entre os municípios do estado em extensão territorial, com uma área de 15.553,43 km².

O município de Tarauacá originou-se do Seringal Foz do Muru, que foi criado na confluência do Rio Tarauacá com o Rio Muru, transformando-se em povoado com o passar do tempo. Fundado em 1º de outubro de 1907, por Antônio Antunes de Alencar, o povoado foi transformado em vila e batizado de "Seabra". Obteve sua autonomia através do Decreto Federal 9 831, de 23 de outubro de 1912, tornando-se, então, município.

Tarauacá é conhecido como "a terra do abacaxi gigante". Esse fruto chega a pesar em torno de 15 kg, fato que provoca grande admiração nos visitantes. A cidade é dotada de razoável infraestrutura turística. Conta com hospedarias, bares, hotéis e restaurantes, onde sempre se encontram pratos à base de peixes nobres da região, dentre outras especialidades.

O município de Tarauacá se tornou famoso no Brasil e no mundo após o programa Globo Repórter exibir uma matéria sobre as "Riquezas Amazônicas" que foi ao ar em 08 de dezembro de 2006. A reportagem mostra que além de produzir uma espécie de abacaxi gigante, também comprova que uma combinação de ervas que só existem na região, é capaz de fazer crescer cabelo em quem tem calvície. Carlos Pinto da Silva, o seringueiro que se virou cientista ao desenvolver o "Shampoo Esperança", diz que jamais revelará o segredo da sua fórmula milagrosa, tão cobiçada pelas indústrias de cosméticos.

*** origem da palavra Tarauacá

A palavra TARAUACÁ vem do povo indígena Kaxinawá (Kaxi=morcego, Nawá=povo, portanto, povo do morcego), falantes da língua Pano (Pano= o grande tatu), e que se autodenominam Huni-kuĩ, isto é, os “verdadeiros homens”, que falam o Rã-txa, a “língua verdadeira”. TARAUACÁ, a escrita original seria TARÁWAKÁ (tará=tronco de árvore, waká=rio). Por isso Tarauacá, “rio das tronqueiras”.


Fonte: Livro SAPUPEMA - Contos Amazônicos.
Autor: Jornalista JOSÉ POTYGUAR

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